TDA / TDAH

TDA / TDAH

Transtorno de Déficit de Atenção/hiperatividade – TDA / TDAH

Sofrimento para o paciente e familiares

 

Existe mesmo o TDAH?

Quem é o responsável pelo diagnóstico?

Medicar ou não medicar?

Qual é o papel do psicólogo no tratamento?

 

Tema complexo, controverso, com diversos estudos científicos que nem sempre chegam às mesmas conclusões, e muitas discordâncias entre profissionais da saúde.

Essa página tem como objetivo apresentar e debater Questões Psicológicas, mas para responder as perguntas acima, terei que ampliar o tema antes de emitir a minha opinião como psicólogo clínico. Assim, começo trazendo para o debate algumas informações relevantes, referenciadas em estudos científicos.

 

– –

O TDAH, geralmente, é identificado na infância quando a criança inicia o ensino fundamental. Os sintomas de hiperatividade tendem a diminuir na adolescência, mas podem persistir na fase adulta e apresentar prejuízo cognitivo. (1,2)

Caracterizado por níveis excessivos de desatenção, de hiperatividade e de impulsividade, o TDAH contribui para a baixa autoestima, pois dificulta o relacionamento interpessoal e causa dificuldades na escola e/ou no trabalho. (3,4)

Estudos científicos se empenham em comprovar que portadores de TDAH possuem alterações na região frontal (disfunção fronto-estriatal) e suas conexões com o resto do cérebro.
Estudos também demonstram que a prevalência do TDAH é semelhante em diferentes regiões, o que indicaria que o transtorno não é consequência de fatores externos. (5,6,7)

Ao mesmo tempo, evidências de estudos sobre famílias revelam que sintomas de TDAH são altamente hereditários (8) embora fatores ambientais também influenciem no desenvolvimento inicial da criança. Históricos de tabagismo e consumo de álcool pela mãe no período pré-natal, baixo peso ao nascer e problemas de desenvolvimento estão associados a altos níveis de desatenção e hiperatividade. (9,10)

E ainda, há estudos indicando que a hiperatividade na infância está igualmente associada ao surgimento subsequente de outros distúrbios psiquiátricos, como por exemplo ansiedade, problemas de conduta, transtornos do humor, comportamento suicida e transtorno de personalidade antissocial. (11,12,13)

– –

O diagnóstico do transtorno é clínico (observação dos sinais e sintomas) e não baseado apenas em testes de imagem ou neuropsicológicos. Em geral, os sintomas são inicialmente percebidos pelos pais e professores, por conta do baixo desempenho escolar. É comum as escolas orientarem os pais a buscar um diagnóstico, seja com um médico, seja com um psicólogo. Entretanto, essa não é uma tarefa simples. É muito comum que o paciente, ao visitar o médico e relatar sintomas como desatenção, atividade motora excessiva, impulsividade, inadequação à etapa do desenvolvimento, receba o diagnóstico de TDAH e a indicação do uso de medicamentos para tratar o TDAH ou para minimizar os distúrbios psiquiátricos associados.

Infelizmente, não são todos os médicos que encaminham os pacientes para uma avaliação psicológica, onde se realiza um diagnóstico complementar mais detalhado através de alguns encontros com o paciente e entendendo melhor as questões psicológicas envolvidas no caso e que muitas vezes se camuflam nos sintomas clássicos de TDAH.

Sou psicólogo e, obviamente, não subestimo o poder da mente humana e todos os transtornos de origem psicológica. Mas, não sou ingênuo de ignorar os estudos científicos, mesmo que estes não sejam exatamente conclusivos e nem mesmo concordantes. Existe mesmo o TDAH e, para quem sofre com o transtorno, direta ou indiretamente, o que importa é amenizar os sintomas e minimizar as consequências e essa é uma questão recorrente: medicar ou não medicar?

Como não ignorei as questões fisiológicas, também não vou ignorar as questões farmacológicas. A medicação mais utilizada é a Ritalina e o Concerta (cloridrato de metilfenidato), substância que pode trazer dependência química, provocar crises de abstinência, pois tem o mesmo mecanismo de ação da cocaína. Também pode interferir no sistema endócrino, que interfere na hipófise. Altera a secreção de hormônios sexuais e diminui a secreção do hormônio de crescimento, podendo inibir o crescimento natural da criança.

Quem efetivamente indica a medicação é o médico (sempre!). A decisão final se o paciente deve ou não tomar a medicação geralmente é dos pais (ou do próprio paciente, quando adulto) e costuma ser uma decisão muito difícil. Por um lado, há a perda da qualidade de vida e ameaça ao futuro do paciente e familiares, mas por outro lado há o medo dos efeitos colaterais pelo uso da droga. E não se pode ignorar o fato do diagnóstico ser clínico, onde o médico observa, momentaneamente, os sinais e os sintomas – como uma fotografia – escuta os relatos dos pais e não possui exames comprobatórios não clínicos (de imagem, de laboratório, neuropsicológicos).

É exatamente no meio de todo esse processo que entra a importância do psicólogo. O psicólogo não tem o “poder da decisão,” mas sim o “dever da mediação” entre paciente, familiares e médicos. Mediar necessidades, aflições e opiniões.

Se a decisão do paciente ou da família for não medicar, o psicólogo poderá orientar a família elaborando estratégias para minimizar os sintomas e os prejuízos, além de ajudar o paciente a compreender suas questões psicológicas que sempre, em qualquer situação, estão presentes e influenciando o comportamento de todo e qualquer indivíduo.

 

Que estratégias, sem o uso de medicamentos, funcionam melhor para crianças com Transtorno de Déficit de Atenção – TDAH?

Uma das melhores estratégias para ajudar a criança com TDAH é concentrar-se sobre os dons que a criança tem. Quando você ajuda a criança a valorizar os seus pontos fortes, ao invés de destacar em seus pontos fracos, ela ganha confiança e motivação para compensar as tendências à distração e à impulsividade.

A terapia é uma grande aliada nesse processo de valorização dos pontos fortes e mapeamentos das emoções.

 

Observe com atenção algumas dicas que realmente funcionam:

  • É muito importante proporcionar às crianças uma dieta de alimentos saudáveis, evitando “fast food”, açúcar, aditivos, corantes, etc.;
  • Estudos revelam que muitas crianças com TDAH não dormem o suficiente. Isso diminui o desempenho mental na escola, criando problemas de comportamento em sala de aula;
  • Pais e professores devem estimular e proporcionar momentos de atividades físicas à criança. O exercício diário é fundamental no tratamento do TDAH. O exercício aumenta a energia, a circulação e melhora o humor, aumentando a capacidade da criança em se concentrar;
  • O estabelecimento de regras consistentes e horários, tanto em casa como na escola, ajuda a criança a administrar suas tarefas e atividades diárias e reduz o seu nível de ansiedade;
  • A respiração profunda é uma valiosa ferramenta e pode ser praticada a qualquer hora do dia. As crianças que param por alguns instantes e promovem algumas respirações profundas antes de fazer a transição para uma nova atividade ou tarefa, apresentam uma melhora na concentração.

Essas ações simples certamente irão promove bem-estar físico e mental!

 

Vivemos tempos corridos, tempos onde parte da vida acontece no meio digital, nas redes sociais, nas nuvens. Estamos nos distanciando do contato físico, das amizades concretas, do olho no olho, das brincadeiras e travessuras infantis e dos atrevimentos criativos da adolescência.
Cada vez mais, uma criança ou um jovem que insiste em se manter faminto por novos estímulos é olhado com certa estranheza e preocupação. Não vamos confundir alegria de viver com transtorno.

Às vezes, uma criança muito agitada é só uma criança muito feliz.

Helio Malka Y Negri

Psicólogo Clínico

– –

Referências:

  1. Polanczyk G, de Lima MS, Horta BL, Biederman J, Rohde LA. The worldwide prevalence of ADHD: a systematic review and metaregression analysis. American Journal of Psychiatry 2007;164(6):942-948.
  2. Waddell C, Offord DR, Shepherd CA, Hua JM, McEwan K. Child psychiatric epidemiology and Canadian public policy-making: the state of the science and the art of the possible. Canadian Journal of Psychiatry 2002;47(9):825-832.
  3. American Academy of Pediatrics. Subcommittee on Attention-Deficit/ Hyperactivity Disorder and Committee on Quality Improvement. Clinical practice guideline: treatment of the school-aged child with attention-deficit/hyperactivity disorder. Pediatrics 2001;108(4):1033-1044.
  4. Pliszka S, AACAP Work Group on Quality Issues. Practice parameter for the assessment and treatment of children and adolescents with attention-deficit/hyperactivity disorder. Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry 2007;46(7):894-921.
  5. Chugani HT, Phelps ME, Mazziotta J. Positron emission tomography study of human brain functional development. Annals of Neurology 1987;22:487-97.
  6. Zametkin AJ, Liebenauer LL, Fitzgerald GA, King AC, Minkunas DV, Herscovitch P, et al. Brain metabolism in teenagers with attention-deficit hyperactivity disorder. Arch Gen Psychiatry 1993;50:333-40.
  7. Muzik O, Chugani DC, Juhász C, Shen C e Chugani HT. Statistical parametric mapping: assessment of application in children. Neuroimage 2000;12:538-49.
  8. Faraone SV, Perlis RH, Doyle AE, Smoller JW, Goralnick JJ, Holmgren MA, Sklar P. Molecular genetics of attention-deficit/hyperactivity disorder. Biological Psychiatry 2005;57(11):1313-1323.
  9. Szatmari P, Offord DR, Boyle MH. Correlates, associated impairments and patterns of service utilization of children with attention deficit disorder: findings from the Ontario Child Health Study. Journal of Child Psychology and Psychiatry 1989;30(2):205-217.
  10. Fergusson DM, Woodward LJ, Horwood LJ. Maternal smoking during pregnancy and psychiatric adjustment in late adolescence. Archives of General Psychiatry 1998;55(8):721-727.
  11. Fergusson DM, Horwood LJ. Early onset cannabis use and psychosocial adjustment in young adults. Addiction 1997;92(3):279-296.
  12. Fergusson DM, Horwood LJ, Ridder EM. Show me the child at seven: the consequences of conduct problems in childhood for psychosocial functioning in adulthood. Journal of Child Psychology and Psychiatry 2005;46(8):837-849.
  13. Woodward LJ, Fergusson DM, Horwood LJ. Driving outcomes of young people with attentional difficulties in adolescence. Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry 2000;39(5):627-634.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *